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Editorial

O impresso reinventado

 

O jornalismo está mudando. O jornal que é comprado nas bancas pode deixar de existir nas próximas décadas. Os cursos de jornalismo do Brasil têm de começar a adequar os jornais laboratórios a um ambiente completamente digital. Os grandes jornais mundiais já trabalham com um sistema de fidelização do assinante em diversas plataformas, bem parecido com os serviços de streaming. Esses serviços tornaram-se uma tendência nos últimos dez anos. Canais como Netflix e Hulu, para filmes e séries, Spotify e Apple Music, para transmissão de música, descobriram uma forma de utilizar as facilidades da internet para distribuição de conteúdo de modo bem mais prático, tendência que vem se intensificando, ainda que a passos lentos, no jornalismo brasileiro.

 

Por uma mensalidade, o assinante tem acesso a toda uma gama de produtos, acervos com milhões de músicas, filmes, seriados, minisséries e, ultimamente, a uma variedade de conteúdos jornalísticos (o chamado paywall, ou modelo poroso). Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), houve um aumento de 7,5% nas assinaturas dos grandes jornais brasileiros. As vendas avulsas, no entanto, diminuíram 7,6% e, mesmo assim, a participação de edições digitais na circulação diária mais que dobrou, crescendo 118% de 2013 para 2014.

 

Esses números mostram que a produção de conteúdo para múltiplas plataformas é uma necessidade latente no jornalismo do século XXI. No ano passado, as edições digitais passaram a representar 11,5% da tiragem diária dos grandes jornais brasileiros. O que hoje se vê nas ruas é a massificação dos smartphones: os aparelhos chegaram a representar um terço do acesso dos sites filiados ao IVC em dezembro de 2014.

 

O jornal já se transformou. Gradativamente observamos produtos mais densos na web, mais trabalhados, e o leitor de hoje é muito diferente daquele de vinte anos atrás. Assim, a 20ª edição do LAMPIÃO mergulha numa nova era. A marca que queremos deixar é de uma abordagem mais ampla e profunda dos problemas enfrentados em Ouro Preto e Mariana.

 

Nossa equipe de reportagem fala sobre o fechamento da Santa Casa de Misericórdia, explicando a burocracia e como tudo aconteceu, sem deixar de lado as demandas da população por um serviço de qualidade. No trânsito, constatamos várias aberrações em Mariana. Um produto audiovisual que contempla os descasos tanto do poder público, no que diz respeito à sinalização e à desativação dos semáforos, como na imprudência dos atores desse caos do dia-a-dia. Para debater patrimônio, abordamos a Casa da Ópera, o teatro mais antigo das Américas, que infelizmente não funciona há quinze meses por uma série de burocracias.

 

Vimos o quanto a obra demorou a iniciar e também problemas não resolvidos de uma reforma passada. Ainda fazemos um balanço dos edifícios que passam por problemas similares numa radionovela. O cenário político de Mariana e todas as turbulências do mês de junho são pauta, assim como um balanço dos escândalos. A arte e educação se misturam para mostrar iniciativas de diversos grupos e projetos que fornecem um caminho diferente da educação tradicional. E, por fim, mapeamos as dificuldades de acesso aos distritos de Ouro Preto e ouvimos movimentos que reivindicam políticas públicas para localidades afastadas da sede.  

 

Nossa raiz é impressa. Fomos concebidos assim. Mas com o passar do tempo adicionamos conteúdo complementar na web. Hoje, trazemos uma edição inteiramente digital. Toda mudança é brusca. Para a equipe, é um desafio produzir materiais relevantes com diversos recursos sem correr o risco de sermos redundantes. Para o leitor, é um desafio criar um nova forma de enxergar o jornal. Assim como, a dificuldade de leitura num aparelho digital pode tornar-se uma das principais resistências a esse novo modo de veiculação de conteúdo. O LAMPIÃO não está deixando de existir, ele está migrando e mudando, acompanhando as novidades.

 

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